Solidão e o luto das amizades — E o que a não monogamia me ensinou sobre isso.
Um desabafo sobre saudade de novas conexões, medo de me decepcionar e meu carinho pelas relações a três
Oi, amor(a)!
Ando pensando muito em como é estranho sentir tanta falta de amizades profundas—daquelas conversas que começam do nada e terminam às 2 da manhã. Tenho escutado meu peito apertar quando me lembro de como era natural me conectar com “novas mentes”, conhecer alguém e bater papo por dias. Mas hoje, quando tento, me topo com um medo enorme: e se essa pessoa não tiver responsabilidade afetiva? Já sofri demais com amigos que desistiram no meio do caminho, sem avisar, sem se importar. Aí a gente perde a intimidade. E a solidão chega devagar, como um nó no estômago.
A saudade de me comunicar com novas pessoas

Sabe aquele frio na barriga de conhecer alguém que faz seu cérebro funcionar diferente? Que te faz rir de piadas internas e perceber que tem algo em comum, mesmo sendo de mundos diferentes? Eu sinto isso como uma carência: um pedaço de mim que só se preenche quando descubro ideias novas, quando alguém ouve minhas coisinhas e dá risada, e ainda me diz: “Me conta mais.”
Mas, nos últimos tempos, experimentei poucas amizades assim. Quase sempre tem alguém que: Se empolga no começo, mas some sem nenhum “adeus”, ou eu percebo as famosas “red flags”. É muito carinhoso num dia e, no outro, vira gelo. Promete se dedicar, mas na hora do aperto some da sua timeline emocional
Quando isso acontece, morre um pouquinho da minha confiança em abrir meu coração de novo. E, de certa forma, preciso fazer um luto dessas conexões que não vingaram — lidar com a despedida de expectativas que eu mesma criei.
Acho que tenho medo de me decepcionar de novo. Já chorei por amizades que deixaram de aparecer, ou pela quebra de confiança e expectativa. Já chorei por relacionamentos amorosos que desmoronaram quando menos esperava e ainda alimentei a toxidade da relação pra ver se ela durava mais. E essa herança do “fui abandonada sem explicação” ou “Vou ser substituído” me deixa em alerta. Toda vez que me aproximo de alguém, um alarme interno acende: “E se essa pessoa não corresponder, se for só papo e depois me largar?”
No começo, eu achava que esse medo era exagero. Mas hoje entendo que faz parte de um processo de proteção: meu coração quer continuar vivo, sabe? Se eu me jogar de novo sem critério, corro o risco de voltar a sentir aquele vazio dolorido. Mas é tão difícil quando você ama amar pessoas.
Como a não monogamia me ensinou a amar (e a confiar) de outro jeito
Foi aí que a não monogamia chegou na minha vida e me sacudiu. Não porque eu quisesse ter um monte de gente ao mesmo tempo, mas porque me ensinou algo que eu nem sabia que precisava aprender, como:
Compartilhar pluralmente sem perder a individualidade, ao conviver em relação a três, percebi que cada pessoa traz um universo próprio, uma forma de carinho única. Aprendi a valorizar a singularidade de cada um sem cobrar que eles “sirvam” 100 % às minhas expectativas.
Comunicar tudo, sempre, para que a relação a três fluísse bem, precisei falar sobre medos, inseguranças e limites. E, na prática, isso me ajudou a ser mais transparente também em amizades. Pude dizer: “Eu sinto falta de te ver mais”, ou “Talvez eu esteja com medo de me decepcionar, mas quero tentar.”
Entender que cada vínculo tem um ritmo, numa tríade, às vezes é minha vez de receber mais atenção, noutra, é do outro parceiro. Isso me ajudou a não esperar 24 horas de chat de alguém o tempo todo. Aprendi que laços saudáveis existem em ciclos e que não morrerão quando houver uma fase de silêncio.
Ainda assim, confesso: às vezes bate aquela sensação de que me importo demais e só recebo migalhas de atenção. E é aí que entra o “luto de amizade”: saudade de conversas intensas, de gente nova emprestando a visão dela, de sustentar interlocuções que tragam frescor.
🚩 PAUSA PRO AD
Ei, rapidinho! Bora fazer esse rolê chegar mais longe? 💌 Dá aquela moral:
Meu carinho pela relação a três — E a falta de uma amizade profunda.
Desde que tive minha primeira experiência em uma relação a três, senti um tipo de intimidade que eu nunca tinha achado em amizade alguma. A convivência mais próxima, a necessidade de negociação diária, a cumplicidade que se constrói num triângulo afetivo — tudo isso me tocou fundo.
Mas, reflito: será que eu valorizo tanto essa dinâmica a três porque, lá no fundo, estou buscando algo que nunca encontrei em amizade? É aquele nível de conexão em que você fala o que pensa, sem filtro, sem medo de ser julgado, e a pessoa te puxa pra realidade quando você começa a delirar. Talvez eu tenha sentido falta — verdadeiramente falta — de uma amizade assim, sem ser “minha outra metade romântica”.
Hoje, minha relação me dá um vislumbre de como seria ter uma amizade profunda com alguém. Mas sei que a amizade, por si só, tem dinâmicas próprias, sem necessidade de negociação sexual ou romântica. O desafio é entender que posso (e devo) buscar esse laço singular em outras pessoas, mesmo com receio de me decepcionar.
Compartilhando sem solução aparente
Não escrevo isso com a pretensão de consertar minha solidão ou dizer “faça isso, aquilo e pronto”. Eu só queria dividir esse aperto no peito que é sentir falta de laços antigos, medo de investir em novos, e a esperança (e, ao mesmo tempo, a angústia) de encontrar outras pessoas capazes de segurar minha mão de dentro pra fora.
Minhas antigas relações a três e meu relacionamento atual (composto por dois poliamorosos) me ensinou que vínculos plurais podem ser um convite à liberdade afetiva. Mas também mostrou o tamanho do buraco que algumas amizades—interrompidas, negligenciadas ou nunca iniciadas—deixam na minha vida. É um luto silencioso, mas real.
Se você também sentiu essa saudade íntima de conversar com “novas mentes” e perdeu a coragem de dar boas-vindas a outras almas por medo de desapontamento, saiba que a gente está junto nessa viagem.
Bora conversar?
Me diz aí,
Como você lida com essa mistura de saudade e medo de desapontar alguém?
Já encontrou alguma amizade que lhe deu aquele “clique” e curou um pouco dessa solidão?
Qual papel as relações não monogâmicas tiveram (ou têm) na forma como você se conecta com amigos?
Responde esse e-mail — suas palavras podem virar parte da nossa próxima edição. Aqui, seu luto, sua saudade e seu medo ganham voz. 🤍
Por amor(a), sempre.